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Centro de Uruçuí. Entrevista de Maria das Dores Gomes Rocha (Perpétua) concedida a João Hemílio Alencar Alves

Meu bairro amanhece o dia com o seu Salú levando seu gado pra tirar leite, e logo depois o seu Berto com sua rabetinha indo pro rio pescar. Em torno de 6:30 começa a chegar algumas pessoas pra fazer caminhada, e logo depois chega o pessoal indo para seus trabalhos. Quando dá umas 9 horas a dona Maria passa vendendo seu cheiro-verde de casa em casa, ao meio dia as pessoas começam a sair de seus trabalhos pra ir almoçar e o movimento diminui um pouco. Às 2 horas o movimento começa a aumentar de novo e assim vai até o fim da tarde.

Quando chega a boquinha da noite muitos voltam a andar na praça fazendo caminhada, outros vão para namorar ou para pegar Wi-Fi e tem deles que vêm para jogar bola. No meu bairro tem de tudo: banco, prefeitura, lojas de roupas, madeireira e muito mais, onde todas as pessoas acham o que procuram. Nele também é onde ocorre o maior festejo do ano, que reuni muitas pessoas de vários lugares. Meu bairro é muito tranquilo e todos os vizinhos, quando chega a noite, sentam na porta pra ficar conversando e vendo o movimento.

 

ENTREVISTA DE PERPÉTUA

João Hemílio: Como chegou? De onde veio?

Perpétua: Eu cheguei aqui de jangada pelo rio Uruçuí Preto. Esse rio desemboca no rio Parnaíba. A gente veio de um interior chamado Campo Largo, que fica a 45 km de Uruçuí, indo sentido ponte.

JH: Quais foram as dificuldades?

P: As dificuldades foram muitas. A gente não tinha um barco grande pra trazer nossas mudanças, então improvisamos e fizemos de talo de buriti, que aqui na região é chamado de macaco. Quando chegamos fomos construir nossa moradia. Os homens e as mulheres trabalhavam dia e noite na construção da nossa casa.

JH: Quantos e quais vieram, ou já moravam aqui?

P: Quando a gente veio só vieram eu e minhas irmãs e irmãos e sobrinhos, mais já tinha um irmão da gente morando em Uruçuí que se chamava de Lemi, mais ele morava com sua esposa em outro bairro. A gente trouxe os nossos filhos e sobrinhos pra estudar aqui pra ser alguém na vida. Com o passar dos tempos minha mãe veio morar com a gente e deixou o meu pai tomando conta da fazenda, mas uma vez por mês ele vinha nos visitar e trazer a comida da gente. A comida era trazida de animal em jacás, mas vinha de tudo: arroz, feijão, banana, carne e tudo mais.

JH: O bairro já existia? Se não, o que tinha?

P: O bairro não existia. Aqui era zona rural, tinha mato pra todo lugar. O que existia eram poucas casas na beira do rio, onde morava as autoridades da época, como o seu José Cavalcante e outros.

JH: O que mudou?

P: A mudança veio aos poucos, com a construção de nossa avenida José Cavalcante, construção de casas e postos comerciais. No início a nossa avenida era de piçarra. Logo depois veio o calçamento de pedra e já muito recente foi colocado o asfalto. Hoje nosso bairro é um dos mais bonitos da cidade, desde quando chegamos só foi melhoria.

JH: Melhorou ou piorou e quando melhorou ou piorou?

P: Melhorou 100%. A melhoria veio um pouco lenta quando a gente chegou, mas com o passar dos anos foi acelerando. Mais ou menos em 2000 a nossa cidade deu uma alavancada com a chegada de uma multi-nacional, a BUNGE, com construção de casa e geração de empregos pra nossa sociedade, e depois foi chegando várias outras empresas para o nosso município e atraindo grandes investidores na compra de terra pra a produção de soja e vários outros tipo de agricultura.

JH: Se pudesse voltar no tempo você viria de novo?

P: Sim, eu viria com certeza, por que foi aqui nessa cidade, nesse município, onde eu me criei e criei meus filhos e netos, e hoje me sinto realizada por ter meus filhos todos formados e meus sobrinhos estudando, pra sempre estar em constante evolução junto com nossa cidade, nosso município. Eu sou costureira e tenho orgulho de morar em Uruçuí.