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Índios gueguês e akroás e a campanha de João do Rego Castelo Branco de 1764-1765 na bacia do Uruçuí – Juciene Apolinário

Trecho da tese de Juciene Apolinário sobre a passagem dos gueguês e akroás pela bacia do rio Uruçuí. Apud. APOLINÁRIO, Juciene Ricarte. Os Akroá e os outros povos indígenas nas fronteiras do sertão: as práticas das políticas indígena e indigenista no norte da capitania de Goiás – Século XVIII. Tese (doutorado) – Universidade Federal de Pernabuco, 2005, p. 68-69. Disponível em: http://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/7522

 

“De novembro de 1764 a julho de 1765, João do Rego Castelo Branco, acompanhado de uma tropa formada pelos moradores da freguesia do Parnaguá e Jerumenha e dos Anapurú, perseguiram os Gueguê em suas terras. Descendo pelas margens do rio Uruçuí, chegou à aldeia dos Gueguê e esta se encontrava totalmente consumida pelo fogo ateado pelos próprios indígenas ao fugirem da bandeira. Todavia restaram apenas as roças de mandioca e outros tubérculos.

Descendo, sorrateiramente, o rio Uruçuí os soldados da bandeira logo avistaram algumas mulheres Gueguê que tinham se distanciado do seu grupo com o objetivo de buscar alimentos. Ao serem avistadas sem nenhuma chance de se defenderem foram atingidas pelas armas de fogo dos soldados. Duas foram mortas, algumas conseguiram fugir e uma foi aprisionada. A desculpa do comandante da bandeira é que queriam matá-las para que não fossem informar aos outros indígenas a presença da bandeira.

Ao amanhecer o dia, a tropa foi pega de surpresa com uma flecha vindo de um monte. O projétil não atingiu ninguém, porém a índia aprisionada reconheceu que era um membro do seu povo e logo gritou informando que estava presa e que viesse acudi-la. Um dos indígenas Gueguê que já tinha feito aliança com os conquistadores foi recomendado que informasse ao indígena escondido no monte que fosse falar ao seu maioral do interesse que os luso-brasileiros tinham de fazer um acordo de paz. Um outro intérprete chamado Manuel de Matos, também insistiu para que os Gueguê aceitassem a paz”.

Vendo que não havia outra opção e que acordar a paz naquele momento com os não-indígenas seria um mal menor para o seu povo, o líder Gueguê apareceu diante do tenente-coronel João do Rego Castelo Branco e abraçou o seu parente batizado de Manuel de Matos. Sem embargo, os não-indígenas foram levados até a aldeia onde se encontravam o resto do grupo. Os Gueguê entoaram um canto que expressava o acordo de Paz.
Na aldeia dos Gueguê foram apresentadas as chamadas capitulações do acordo de paz e entre esses se acordou que os não-indígenas iriam combater conjuntamente um grupo dos Akroá que já estava encurralado em grutas próximas ao rio Uruçuí. Com a permanência dos soldados entre os Gueguê, os primeiros fizeram trocas de algumas crianças Akroá, seqüestradas das suas mães pelos segundos, trocando-os por gêneros não citados no documento arrolado.

No final da campanha empreendida pela bandeira chefiada pelo tenente-coronel, João do Rego Castelo Branco foram aprisionados 337 Gueguê e 400 foram mortos e deixados pelo mato, como se fossem animais peçonhentos. Entre os Gueguê, havia duas mulheres não-indígenas que se diziam cativas. Com a desculpa de educar as crianças indígenas para a fé católica e torná-las pessoas civilizadas, elas foram arrancadas de suas mães e distribuídas entre os moradores dos arraiais circunvizinhos. Na realidade essas crianças eram criadas como cativas e desde as mais tenras idades exploradas como mão-de-obra compulsória. Quanto aos homens e mulheres adultas Gueguê eles foram conduzidos ao governador do Maranhão no intuito de enviá-los para aldeamentos distante das suas terras de origem, enfraquecendo-os e submetendo-os à sociedade colonial a ao Estado Português. Foi criado o aldeamento de São João de Sende no distrito de Oeiras para os indígenas Gueguê que inicialmente foi composto por 337 indígenas”.

 

 

Os índios gueguês em Uruçuí – Luiz Mott

Trecho do artigo de Luiz Mott sobre os índios gueguês no Piauí setecentista que trata da região de Uruçuí: uruçuí guegues mott

Para ver o artigo completo: https://www.academia.edu/33039837/MOTT_Luiz._Conquista_aldeamento_e_domestica%C3%A7%C3%A3o_dos_%C3%ADndios_guegu%C3%AA_do_Piau%C3%AD_1764-1770

MOTT, Luiz. Conquista, aldeamento e domesticação dos índios gueguê do Piauí: 1764-1770. Revista de Antropologia. São Paulo: USP, vol. 30/31/32, 1987/88/89, p. 67.

Bacia do rio Uruçuí-preto no mapa etno-histórico de Curt Nimuendajú (1944)

O etnógrafo alemão Curt Nimuendajú – considerado o pai da etnologia no Brasil – produziu seu mapa etno-histórico com base em registros documentais da passagem de variados grupos indígenas em diversas regiões no Brasil. No recorte que publicamos aqui no AHORU, há referências aos gueguês e acroás no curso médio do rio Uruçuí-preto, e aos acroás e aranhís no rio Balsas, próximo à desembocadura do Uruçuí-preto no Parnaíba.

mapa nimuendajú uruçuí

Mapa etno-histórico do Brasil e regiões adjacentes adaptado do mapa de Curt Nimuendajú (1944). Brasília: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1980.

(Re)Organização territorial no cerrado piauiense

BARBOSA, Anésia Maria Fonsêca. (Re)Organização territorial no cerrado piauiense. Dissertação (mestrado) – UFPI, 2009.

Para baixar a dissertação, utilize o link: repositorio.ufpi.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/46/Dissertação.pdf?sequence=1

RESUMO:

A expansão da fronteira agrícola é histórica no Brasil, pois desde a colonização implantaramse grandes projetos agrícolas para exportação. Assim, para incentivar as transformações urbanas, industriais e agrícolas a partir da década de 1950, o Governo Federal instituiu políticas que visavam à integração nacional, como a inserção dos cerrados brasileiros em função das grandes extensões de terras planas desocupadas e a necessidade de equilibrar o balanço de pagamentos. Nessa perspectiva, nos anos de 1970, este contexto aliado aos baixos preços das terras e da mão-de-obra local, à favorabilidade das terras para a mecanização, aos incentivos fiscais e financeiros concedidos pelos Governos Federal e Estadual, despertou o interesse de grupos empresariais do Centro-Sul do país para instalar-se, inicialmente, com projetos de reflorestamento e, posteriormente, de produção de grãos, no cerrado piauiense e, particularmente, no município de Uruçuí, que atualmente é o maior produtor de soja do Estado. Diante desse cenário questionou-se, como o agronegócio de grãos em implementação em Uruçuí provocou a (re)produção do espaço rural/urbano? Para a efetivação do estudo analisou-se a implantação dos projetos produtores de grãos, em particular, soja, os quais formam os gestores do processo de reorganização territorial e ambiental em Uruçuí, a partir dos anos de 1990. Para tanto, fez-se necessário discorrer sobre as concepções de espaço, território e territorialidade, analisar as dimensões de desenvolvimento sustentável local, caracterizar os agentes econômicos que estimularam as mudanças e a interdependência dos espaços rural e urbano, bem como identificar as consequências ambientais resultantes da reorganização espacial, social e ambiental no município sob apreciação. Nesse sentido, fizeram-se levantamento bibliográfico, documental e pesquisa de campo junto a 342 representantes de diversos segmentos sociais, como moradores e comerciantes da cidade, residentes em assentamentos e povoados na zona rural e, representantes de projetos graníferos, por meio de entrevistas e questionários, registro fotográfico, diário de campo com vistas a analisar os impactos econômicos, espaciais e ambientais no município. No entanto, através da pesquisa, constatou-se que a instalação dos projetos agrícolas em Uruçuí foi determinante para a reestruturação dos espaços urbano e rural, com a finalidade de atender as necessidades e interesses dos produtores agrícolas, a qual redundou em novos arranjos territoriais, como a modificação do espaço rural com o predomínio das grandes lavouras de soja, milho e arroz e, na área urbana, derivado do crescimento horizontal da cidade com a criação de condomínios fechados para funcionários da Bunge Alimentos e o surgimento de terrenos destinados a loteamentos afastados da zona urbana acerca de 9 (nove) km, na região denominada de Novo Uruçuí.